Sob a Superfície: Tratar dos Aspetos Emocionais da Gaguez

Por C. Woody Starkweather,

Pensilvânia, EUA

Para a maioria das pessoas que gaguejam, os sentimentos associados ao seu distúrbio são uma parte importante do problema. Para alguns, eles são de extrema importância. No mínimo, esses sentimentos são fortemente perturbadores, muitas vezes dolorosos. Como especialistas que lidam com a gaguez, os terapeutas da fala têm pouca ou nenhuma formação sobre emoções. Naturalmente, quando uma pessoa que gagueja lhes pede ajuda nesta área, eles sentem-se desadequados e inseguros. Eles podem, e muitos fazem-no, estabelecer um relacionamento profissional com um psicólogo para onde podem encaminhar os seus clientes e com o qual cooperam e partilham informação. Este acordo pode, certamente, funcionar, mas não é fácil encontrar para cada um dos terapeutas da fala um psicoterapeuta disposto a estabelecer este acordo. Além disso, invariavelmente, alguma continuidade do tratamento é perdida quando mais do que um profissional lida com a mesma pessoa. Este artigo descreverá as emoções ligadas à gaguez e estabelecerá, embora superficialmente, quais os elementos de estratégias de tratamento que são úteis para lidar com as emoções. É comumente aceite, e as provas existentes parecem apoiar esta ideia, que os primeiros comportamentos de gaguez começam como resultado de uma fragilidade neurológica, defeito, ou deficiência no desenvolvimento. Normalmente, esses comportamentos iniciais são simples repetições de palavras ou, na maioria dos casos, de sílabas. Numa minoria de pessoas que gaguejam, os primeiros comportamentos são bloqueios vocais. Logo após esses comportamentos surgirem, eles começam a modificar-se de formas que são individualmente distintas para cada criança, apesar de terem sido identificados uma série de temas comuns (Bloodstein, 1960). Essas alterações iniciais são: (1) truncamento do elemento repetido, isto é, de “O que, o que, o que é isso?” para “O qu-, o qu-, o que é isso?” para “ O, o, o, o que é isso?”; (2) o ritmo dos elementos repetidos aumenta, o que está provavelmente relacionado, ou são idênticos, com o truncamento dos elementos repetidos; (3) aumento do tom de voz durante a gaguez, e (4) o aparecimento de tensão, esforço e evasão. Todas estas mudanças iniciais são muito provavelmente o resultado de reações, muito provavelmente abaixo do nível de consciência, de que a criança está a ter ao gaguejar. Certamente, nenhuma outra explicação credível em relação a estas mudanças iniciais foi apresentada. A primeira reação parece ser a frustração. Em psicologia, frustração é definida como uma reação específica em relação à experiência de ser incapaz de obter reforço por um comportamento que foi previamente reforçado com regularidade e de forma fiável. A principal característica do comportamento de frustração é um esforço acrescido no desempenho do comportamento não reforçado (Amsel e Roussel, 1952). Não é difícil projetar estas ideias na gaguez. A criança já fala há algum tempo e acostumou-se às recompensas associadas à sua fala: As suas necessidades são satisfeitas, os adultos estão encantados por a ouvir falar e, talvez, haja prazer nestes primeiros atos de comunicação. Posteriormente, normalmente aos poucos, os elementos repetidos ou os bloqueios começam a retardar as recompensas que a criança recebe. Durante estes atrasos não há reforço e as condições necessárias e suficientes para a frustração estão presentes. A criança começa a aplicar um esforço acrescido quando fala. Tipicamente, este esforço acrescido seria na forma de tentar acelerar os comportamentos associados à gaguez, de modo a deixa-los para trás, e isso pode resultar numa crescente pressão subglótica de ar, aumento da pressão articulatória e movimentos corporais estranhos, todos estes comportamentos podem ser categorizados como aspetos de uma reação de frustração em relação à experiência de estar a sofrer um atraso no que diz respeito à fala. A crescente pressão subglótica de ar pode levar a um aumento do volume da voz, mas se esse volume da voz é contido pelos pais ou pelo autocontrole, como seria natural, pode ocorrer um aumento do tom da voz durante o bloqueio. Portanto, a maioria destas reações iniciais parecem ser aspetos de frustração. Ao fazer um esforço adicional no ato de falar, a criança não consegue acabar ou mesmo reduzir a gaguez, e, na verdade, aumenta a gravidade dos bloqueios. O mecanismo da fala está demasiado equilibrado e dinâmico para fazer alguma coisa com estas estratégias, exceto agravar a gaguez. Obviamente que isso intensifica a reação de frustração. É por isso que ensinar a pessoa que gagueja uma maneira mais fácil de gaguejar alivia a frustração. Com este aumento da gaguez, a criança pode deparar-se com reações emocionais por parte dos seus colegas, irmãos e pais que podem fazer com que fique com medo de falar, com medo de gaguejar. Mais tarde, as pessoas que gaguejam podem ficar com medo de nunca conseguirem dizer uma palavra, de não serem capazes de respirar, de se sentirem constrangidas. Estes medos levarão, provavelmente, a mais dois acontecimentos: (1) a descoberta da evasão como estratégia para lidar com as dificuldades da fala, e (2) a tendência para a gaguez começar a ocorrer mais numas situações do que noutras. A primeira é uma estratégia facilmente acessível para as crianças. Podem simplesmente não falar. Não falar, ou agir como uma criança tímida, é muito comum em crianças pequenas (Starkweather, Gottwald e Halfond, 1990) e alguns pais ficariam preocupados com esta mudança numa criança do pré-escolar. Outros aspetos da evasão, como movimentos amplos com a cabeça, braços ou pernas que podem terminar com o comportamento associado à gaguez, com comportamentos de início, de tempo, etc., também podem ser descobertos por acaso pela criança. A descoberta destes truques leva, como todos sabemos, à sua incorporação no repertório de gaguez da criança, onde perdem a sua eficácia como comportamentos de evasão, mas mantêm presença no padrão de gaguez. Contudo não teriam sido adquiridos se não fosse pela frustração que a criança sente e pelo medo de gaguejar. O segundo acontecimento, a gaguez ocorrer e, situações de fala específicas, é também um resultado do medo, mais especificamente a apreensão de que a gaguez ocorrerá. Por exemplo, uma criança que gagueja quando fala com o pai, que se sente frustrada por ter gaguejado e também se apercebe de uma reação de receio por parte do pai, é provável que sinta uma grande apreensão de que a mesma coisa possa ocorrer novamente, levando a um aumento da tensão muscular quando se encontra na mesma situação, ou numa situação semelhante. Desta forma, o medo de figuras de autoridade, e da ocorrência de episódios de gaguez mais frequentes e mais severos quando fala com essas figuras de autoridade, instala-se. O mesmo se aplica a outras situações. A simples experiência de gaguejar numa situação específica fará com que o medo aumente quando essa situação voltar a ocorrer, e o ato motor da expressão verbal será mais difícil, como resultado da tensão muscular que o medo gera. Se a criança tentar evitar a situação que teme, o seu medo em relação a essa situação vai aumentar. A evasão sempre fez com que o medo crescesse, como Bandura (1969) demonstrou tão claramente. Portanto, a frustração e o medo estão presentes nas fases inicias da gaguez, ajudam a aumentar a severidade da perturbação e como a criança continua a gaguejar mudam a expressão comportamental. Outras reações emocionais também podem ocorrer, frequentemente mais tarde, na sequência do desenvolvimento. A raiva é uma parte comum da frustração. Na verdade, podemos dizer que a frustração é um tipo de raiva direcionada sobre a própria pessoa. Então, a raiva também pode ser uma das primeiras reações à gaguez. Também se desenvolve posteriormente, pelo menos em algumas pessoas que gaguejam, como uma reação às atitudes reais ou imaginárias dos ouvintes. Por vezes existe raiva para além da gaguez quando a pessoa que gagueja suspeita ou acredita, erradamente, que um dos pais ou outra pessoa em particular é responsável pela gaguez. A provocação por parte dos colegas é outro fator comum no desenvolvimento da raiva. A provocação deve ser levada sempre a sério e tratada com eficácia pelos pais e funcionários da escola. À medida que a gaguez se desenvolve, há, por vezes, um medo crescente, particularmente quando a evasão é uma estratégia comum. A evasão aumenta o medo e o confronto diminui o medo. O exemplo mais óbvio em relação a esta situação é a pessoa que esconde que gagueja, que adotou a evasão como estratégia principal para lidar com a gaguez. A pessoa que esconde que gagueja vive com medo de ser descoberta, ou de “escorregar”, isto é, de gaguejar abertamente. Na minha experiência, as pessoas que escondem que gaguejam sentem mais medo do que as outras. No entanto, uma das características conhecidas no comportamento de evasão é a diminuição do medo que ocorre quando um comportamento de evasão é regular e fiável ao evitar o estímulo temido com sucesso (Bandura, 1969). Apesar disso, para a pessoa que esconde que gagueja os comportamentos de evasão devem ter sucesso com pouca regularidade e fiabilidade. Ao descrever este fenómeno, Bandura é rápido a salientar que o medo é subjugado, mas é, no entanto, apenas sob a superfície, e se houver um motivo para a pessoa acreditar que a estratégia de evasão pode falhar numa determinada circunstância, o medo aumenta rapidamente. Uma boa analogia em relação a este conceito pode ser: carregar no travão do carro quando nos aproximamos de um cruzamento movimentado. Não sentimos medo porque os travões sempre foram capazes de parar o carro. Mas, se ao travar quando nos aproximamos de um cruzamento os travões falharem, há um visível aumento do medo. Diria que com as pessoas que escondem que gaguejam, há momentos em que sentem que podem estar quase a gaguejar abertamente, como se os travões pudessem falhar. Se assim for, é compreensível que permaneçam com medo de poder gaguejar. Mais tarde, na vida, muitas pessoas que gaguejam desenvolvem uma depressão sobre a sua gaguez. Podem sofrer com as oportunidades perdidas – das muitas possibilidades do que poderia ter sido. A gaguez em si é uma perda de função, embora parcial e intermitente, e, consequentemente, pode desencadear as respostas bem conhecidas do ciclo de sofrimento. Justamente por a gaguez ser parcial e intermitente, pode ser muito difícil para as pessoas que gaguejam passarem do ciclo de sofrimento para o de conforto e resignação. Ficam presos na negação do futuro (por exemplo, “um dia simplesmente desaparece”) ou de minimizar (“não é assim tão mau”) ou de puramente negar ao não querer pensar sobre a gaguez quando estão a passar por um momento mais fluente. Também podem ficar presos à raiva ou na negociação das fases do ciclo de sofrimento, culpando-se, culpando os outros, ou culpando uma mítica causa neurológica ou genética, qualquer um dos casos pode fazer com que não façam o trabalho necessário de recuperação. Jogar ao jogo da culpa é uma maneira de manter o foco longe de si, e ao não ter o foco em si a recuperação é, geralmente, impossível. A vergonha é, como todos sabemos, com frequência a parte principal da gaguez. Vergonha não é a mesma coisa que constrangimento. Quando uma pessoa está constrangida sente que cometeu um erro, fez algo de errado. Ao parar de cometer o erro o constrangimento rapidamente desaparece. Quando uma pessoa sente vergonha, sente como se ela própria fosse um erro. Portanto, para as pessoas que gaguejam vergonha significa um sentimento de imperfeição. É um sentimento terrível. Muitas pessoas que gaguejam disseram-me que não se sentem completamente humanos, que apresentam falhas de uma forma significativa e, por isso, não são realmente membros da raça humana. Embora para uma pessoa que não gagueja isto possa parecer uma reação extrema, já ouvi vezes suficientes para perceber que não é muito incomum. Charles Van Riper, Joseph Sheehan, e outros, também, naturalmente, já escreveram extensivamente sobre esse sentimento. Análise Racional para Tratar os Aspetos Emocionais da Gaguez Em primeiro lugar, e mais importante, os aspetos emocionais da gaguez são dignos de tratamento por si só. Não há motivo para que as pessoas que gaguejam sofram com a frustração, a raiva interiorizada, depressão, medo ou vergonha. A atenuação desses sentimentos pode tornar a vida de uma pessoa que gagueja muito mais confortável. Em segundo lugar, muitos desses sentimentos geram tensão, levam a um esforço adicional, e evasão, o que torna o padrão de comportamento da gaguez mais grave, e ao reduzi-los os terapeutas podem tornar o discurso de uma pessoa que gagueja mais livre e fluente. Finalmente, é claro para mim e para muitos outros terapeutas da fala que os aspetos emocionais da gaguez geralmente sobrevivem ao tratamento que é dirigido apenas ao comportamento. Mesmo que o tratamento possa resultar e a pessoa deixe de gaguejar, é provável que continuem a ter medo das mesmas situações em que antes também tinham quando gaguejavam, que se irritem com os ouvintes que desviam o olhar ou que são disfluêntes, que se sintam envergonhados com a sua imperfeição básica e que se sintam deprimidos com a perda da sua infância devido à gaguez. A fluência temporária que resulta dos tratamentos de natureza puramente comportamental gera euforia, o que pode, por algum tempo, ocultar todas as antigas reações emocionais, contudo, com o tempo a euforia desaparece e os sentimentos antigos reaparecem. Quando isso acontece, frequentemente leva a uma reincidência do comportamento de evasão, ao aumento da tensão muscular e emocional e ao ressurgimento do comportamento da gaguez. Consequentemente, tratar os aspetos emocionais da gaguez é uma das formas de prevenir a recaída. Na minha opinião, nenhuma terapia atual aborda os aspetos emocionais da gaguez de forma satisfatória. As terapias de modelação da fluência normalmente não resolvem esses aspetos, embora algumas os abordem de uma forma dissimulada. As terapias de modificação da gaguez lidam com o medo e às vezes com a vergonha (mas apenas parcialmente), porém os autores que escrevem sobre estes temas raramente mencionam qualquer uma das outras reações emocionais que caracterizam o distúrbio. Naturalmente, um psicoterapeuta é especializado neste tipo de tratamento, e quando escuta atentamente o que o seu cliente diz sobre a gaguez, pode oferecer um tratamento muito eficaz, como comprovam uma série de episódios. Infelizmente os psicoterapeutas não aprendem quase nada sobre gaguez durante a sua formação, e se lerem alguma coisa sobre o assunto nos jornais de psicologia, é muito provável que a informação esteja errada. Logo, há muitos casos em que os psicoterapeutas abordam o tratamento da gaguez utilizando teoria que não está correta, que pode sobrepor-se à informação que os seus clientes lhes podem estar a transmitir. Embora aconteça, o sucesso do tratamento da gaguez em psicoterapia é provavelmente ainda menos comum do que o da terapia da fala. Tratamento de Reações Emocionais Específicas Escusado será dizer que este fórum é muito breve para permitir nada mais do que um esboço de como tratar os aspetos emocionais da gaguez. Tal como acontece em todos os tipos de terapia, a experiência prática supervisionada é a melhor maneira de aprender como deve fazer, e apenas ler sobre o assunto é um substituto pobre. O que aqui pode ser apresentado é o tipo de atividades que ajudam as pessoas que gaguejam a diminuir o nível de emotividade em torno do seu transtorno. Talvez isto ajude os terapeutas a perceber que não há nada de misterioso no processo de trabalho com os sentimentos. Tudo o que necessita é de um pouco de formação que o pode ajudar a começar. Depois disso, os terapeutas aprenderão, como sempre o fizeram, com os seus clientes. Frustração A frustração que caracteriza quase todos os episódios de gaguez é simplesmente o esforço acrescido que a pessoa que gagueja tem de fazer para continuar a falar. Contudo, o esforço acrescido leva a que a gaguez seja mais severa. Consequentemente, o que todos os terapeutas precisam de fazer para ajudar a reduzir a frustração de uma pessoa que gagueja é ensinar o cliente uma maneira mais fácil de gaguejar, sem os mesmos níveis de tensão e esforço. Esta é uma prática comum entre os terapeutas da fala, não necessita de mais elaboração. Medo Da mesma maneira que o medo aumenta com a evasão, ele reduz com o confronto. Portanto, o tratamento para o medo relacionado com a gaguez envolve o confronto com a situação temida e experimentar o seu impacto na totalidade. Frequentemente, esta estratégia de tratamento é chamada de “sinta o medo e faça-o de qualquer maneira”. Com demasiada frequência, os terapeutas ignoram ou não dão a devida importância à primeira parte deste slogan. É importante que o cliente permita-se a sentir o medo. Existe uma série de meios, baseados em processos de negação, isto é, manipulação cognitiva, que as pessoas podem usar para que se tornem insensíveis ao medo. Se um cliente utiliza uma destas estratégias cognitivas e, de seguida, entra numa situação temida, não obterá todos os benefícios do confronto. Assim, os terapeutas precisam de ajudar os seus clientes, através de apoio e confiança, a terem plena consciência de que estão com medo, antes de os ajudar a confrontar a situação temida. Ao experimentar na totalidade o sentimento de medo, a confrontação será extremamente eficaz na redução do medo. Às vezes é difícil conseguir que os clientes comecem por esta via. Eles estão, afinal, com medo. Mas com apoio, a maioria começa, e uma vez iniciado o processo é altamente auto-reforçado e os medos são reduzidos de forma substancial e rápida. À medida que os clientes vão perdendo o medo, a primeira mudança que o terapeuta observa é uma redução da tensão muscular, que normalmente se manifesta com uma redução na severidade da gaguez. Também poderá haver uma redução na frequência com que a gaguez ocorre, como alguns dos episódios mais suaves não mostram tensão muscular suficiente para serem vistos como comportamentos evidentes de gaguez. Uma ajuda preciosa para trabalhar na redução do medo é a hierarquia de situações de fala temidas. Na maioria das vezes é melhor começar a trabalhar na redução do medo em situações que não produzem muito medo. Por vezes, podemos começar num patamar um pouco mais elevado na hierarquia, mas geralmente a maioria das situações que provocam medo não serão passíveis de mudança até que as situações mais fáceis sejam modificadas. A hierarquia é, portanto, uma ferramenta importante para reduzir o medo. Ocasionalmente existem clientes cuja gaguez se manifesta quase completamente como medo. Podem não ser pessoas que escondem completamente a gaguez, mas o medo é o principal problema apresentado. Para esses clientes, confrontar primeiro a situação mais fácil e por fim a mais difícil é a principal forma de tratamento e é extremamente eficaz. Raiva Tal como o medo, a raiva dissipa-se quando a sentimos, contudo há o apoio adicional da ação. A raiva pode ser sentida mais plenamente quando é expressa tanto verbalmente como fisicamente. A maioria de nós já experimentou este fenómeno. Sentimos raiva, mas quando efetivamente gritamos com alguém a raiva aumenta. De seguida, ela suaviza e dissipa-se. Os terapeutas da fala podem ajudar as pessoas que gaguejam a descarregar a raiva através da criação de um espaço físico e emocional onde é seguro fazê-lo. Isto significa que em primeiro lugar o cliente precisa de sentir confiança e aceitação. Precisam de saber que o terapeuta não os vai julgar por estarem com raiva. De seguida, o terapeuta pode ajudá-los a expressar a sua raiva falando alto, chamando nomes a alguém e até mesmo gritando. Também ajuda ter algo suave e flexível, mas não frágil, no qual o cliente possa bater. Existe equipamento específico para fazer este tipo de trabalho. Alguns clientes também precisam de aprender que podem descarregar a raiva em quantidades relativamente pequenas. Para algumas pessoas a experiência de se deixar ficar com raiva é assustadora. Podem sentir-se fora de controlo e com medo de magoar alguém se permitirem que um sentimento tão poderoso seja expresso. Os terapeutas podem ser muito úteis para esses clientes, ajudando-os a perceber que podem descarregar uma pequena quantidade de raiva, de seguida um pouco mais, e mais um pouco posteriormente. Não tem de ser uma erupção cataclísmica de sentimentos ou uma completa perda de controlo. No entanto, é o poder da raiva e da possibilidade de perder o controlo que cria dificuldades para o terapeuta. À medida que a raiva aumenta, os clientes, ocasionalmente, tentam acertar nos objetos mais próximos, como a parede, apesar de terem sido direcionados para bater em algo mais seguro. Por outras palavras, podem perder o controlo e nesse processo magoarem-se ou estragar algo valioso. Assim que ocorra alguma mudança no comportamento do cliente que sugira essa possibilidade, o terapeuta deve para-lo e redirecionar a sua raiva para o objeto mais seguro. A raiva está sempre no limite do controlo, como tal os terapeutas precisam de proteger os seus clientes e, ocasionalmente, a si mesmos desta energia. A formação profissional é realmente necessária para aprender a ajudar os clientes com raiva. Depressão Todos nos já sentimos o que Judith Viorst chama de “perdas necessárias”. Temos alguma coisa – um relacionamento ou uma capacidade – e algo acontece que nos tira essa coisa. Primeiro negamos que aconteceu connosco, de seguida ficamos com raiva, depois começamos a culpar e negociar com Deus ou outra força. Por fim ficamos tristes e aceitamos a realidade da perda. Depois de sentirmos tristeza, neste modo de aceitar, a necessidade de lamentar a perda desvanece. Este padrão, descrito como o “ciclo da dor” pela Elizabeth Kubler-Ross (1969), tem sido observado em muitos tipos de perdas. Em alguns casos, e acredito que muitas vezes com a gaguez, uma pessoa fica presa numa dessas etapas e é incapaz de chegar à pacífica conclusão. Nesses casos, os terapeutas que estão familiarizados com o ciclo podem ajudar os seus clientes a percorrer as etapas e a encontrar alívio. Pode ser que a gaguez não seja tão fácil de aceitar como uma perda de função, porque é apenas uma perda parcial, porque tende a diminuir com a maturidade e porque ocorre apenas de forma intermitente. Certamente que já conheci muitas pessoas que gaguejam que ficaram presos numa das fases deste ciclo: negação, culpa, negociação, ou raiva. Por vezes, as intervenções terapêuticas que procuram simplesmente alcançar a fluência são tornadas mais difíceis, através da retórica, para que a pessoa veja a gaguez como uma perda de função. É claro que não precisa de ser uma perda permanente. Intervenções terapêuticas eficazes podem melhorar ou eliminar a gaguez de modo a não ocorrer recaídas. Tal esperança faz com que frequentemente seja difícil para os clientes verem a gaguez como uma perda de função. Gostaria de ajudá-los, agora, a perceber que é uma perda de função. Posteriormente, alguma ou a totalidade da perda pode ser recuperada, mas é, no entanto, importante ser capaz de lamentar aquilo que está a faltar no momento. É como ser um prisioneiro que quer escapar. Os prisioneiros que não reconhecem e aceitam que não estão genuinamente livres, não vão sentir vontade de escapar. Mas se um prisioneiro aceita plenamente que perdeu a sua liberdade, estará então numa posição emocional de usar a sua inteligência e habilidade para desenvolver um método de fuga. Provavelmente o melhor exemplo disso na gaguez são os clientes – e já vi isto mais do que uma vez – que não querem ir a um terapeuta porque isso fará com que seja manifestamente claro que eles têm um problema. Marty Jezer descreve esse processo com bastante precisão no seu livro “Stuttering: A Life Bound Up in Words”, (Jezer, 1997). Numa situação deste tipo, a pessoa está presa na fase da negação do ciclo da dor e não será capaz de progredir na sua recuperação além desse ponto até que veja o problema tal como ele é, uma intermitente, parcial e, provavelmente, temporária perda de fluência. Outra perda que as pessoas que gaguejam lamentam frequentemente é a infância perdida. A infância deve ser um período de espontaneidade, alegria e de desenvolvimento da competência social. Para muitas crianças que gaguejam, a espontaneidade é substituída pelo medo e intimidação, a alegria pelo horror e vergonha, e o desenvolvimento de competências sociais pelo isolamento. Mais tarde, quando olham para trás, como adultos, para o que foi a sua infância, sentem uma dolorosa sensação de perda. Os terapeutas podem ajudá-los a lamentar por esta perda, criando uma atmosfera na qual se sintam livres para expressar a sua tristeza através do choro e outras manifestações de dor. No nosso trabalho, na Birch Tree Foundation, eu e a Janet Givens ajudamos muitas pessoas que gaguejam a sentir essa tristeza, a lamentar a perda da infância e a avançar para a liberdade da experiência adulta. Vergonha Porque a vergonha é um sentimento no qual nos sentimos inferiores aos outros, o seu tratamento é mais eficaz se for feito num contexto de grupo. Não há nada melhor para ultrapassar a vergonha que a gaguez produz do que a participação num grupo de apoio com outras pessoas que gaguejam. Consequentemente, recomendo sempre aos meus clientes que me falam sobre os seus sentimentos de vergonha que participem nas reuniões da Associação Nacional da Gaguez, locais ou nacionais, onde a vergonha sobre a gaguez é reduzida ou desaparece. Muitos dos que participam nas reuniões saem com a sensação de que o seu fardo de vergonha foi retirado, pelo menos por algum tempo. E ao frequentar estas reuniões assiduamente, muitas pessoas que gaguejam relatam que começam a deixar de sentir vergonha, que se conseguem ver como totalmente humanos, mesmo com a particular dificuldade chamada de gaguez. Se gaguejar, não há necessidade de se sentir imperfeito. Foi exatamente isso que eu li no slogan da Associação Nacional da Gaguez, “se gaguejas, não estás sozinho”. Além das reuniões de grupo, os terapeutas podem contribuir significativamente na redução da vergonha de uma pessoa que gagueja ao, simplesmente, ouvi-los de uma forma plenamente humana, aceitando-os tal como são e, desta forma, ajudando-os a aprender a aceitarem-se a si mesmos, incluindo a sua gaguez. Não há necessidade de desistir da ideia de recuperação desta aceitação. De facto, na minha experiência, a aceitação de si mesmo como uma pessoa que gagueja é um precursor útil, provavelmente necessário, para recuperar da gaguez. Quando as pessoas que gaguejam têm dificuldade em aceitar-se como plenamente humanas, embora ainda gaguejem, descobri que é vantajoso utilizar a estratégia que é conhecida como “agir como se”, ou mais coloquialmente “finge até conseguires”. Ao agir como se se aceitassem sem sentir vergonha, plenos seres humanos, apesar de gaguejarem, poderiam começar a ter uma ideia de qual seria a sensação se eles realmente se sentissem dessa maneira. Uma vez que vejam o quão confortável esta ideia é, torna-se mais fácil para que o sentimento genuíno faça parte do seu autoconceito diariamente. Formar Terapeutas da Fala para Lidar com os Aspetos Emocionais da Gaguez Formar alguém para lidar com os aspetos emocionais da gaguez é, como se poderia esperar, uma tarefa difícil. O programa curricular já está tão cheio que na maioria dos casos é extremamente difícil, se não impossível, formar em dois anos alunos bem preparados no nível de mestre. Muitos programas curriculares têm adotado métodos alternativos com mais tempo de formação para que os alunos estejam bem preparados e conscientes da extensa bibliografia que abrange a nossa área nos dias de hoje. De futuro, teremos de ter, certamente, períodos maiores de formação. Neste momento, a ideia de incluir um componente que requer formação numa área tão complexa como a da psicologia clínica, mesmo num nível superficial, é impensável. E, de qualquer maneira, nenhum de nós quer que essa formação seja superficial. O que podemos fazer é abrir os olhos dos alunos ao mundo dos sentimentos e emoções que desempenham um papel tão central na vida de todos os seres humanos. Esta perceção contribui muito no combate do modelo médico de educação predominante que a maioria dos programas curriculares ainda seguem, onde o médico é o “profissional”, a pessoa com a informação e competências especiais, e o cliente é o destinatário, essencialmente passivo, do tratamento com base nesse conhecimento. É irónico que esse modelo ainda prevaleça na nossa área, mesmo que a área da medicina no qual se baseia tenha avançado e substituído esses modelos de tratamento por outros, nos quais os pacientes desempenham um importante papel interativo e responsável no seu próprio tratamento. Provavelmente a melhor maneira de abrir os olhos dos alunos a estas possibilidades é ajudá-los a perceber a importância dos sentimentos nas suas próprias vidas. Por isso, quando ensinava na Universidade de Temple iniciava cada curso de gaguez com um determinado número de sessões nas quais os alunos contavam uma história, em cinco minutos, sobre como foi para eles crescer. Na primeira meia hora deste exercício, a turma tornava-se num grupo mais coeso e solidário, e as histórias individuais tornavam-se mais autênticas e possantes. Depois de duas aulas a fazer este exercício, todos os alunos estavam plenamente conscientes de como os seus sentimentos têm impacto nas suas relações com os outros e com eles mesmos. Um benefício adicional foi os alunos formarem um laço muito mais coeso uns com os outros, para grande consternação, por vezes, de alguns membros do corpo docente. Além disso, alguns outros pequenos exercícios realizados durante as sessões de supervisão, antes da prática clínica, também foram úteis para ensinar os alunos a olhar sob a superfície. Escusado será dizer que o desempenho dos alunos em todas as áreas da terapia da fala, não apenas na gaguez, foi reforçado. Muitos alunos disseram-me como o curso de gaguez os ajudou a ver a terapia da fala sob um prisma totalmente diferente e tornou a prática desta profissão uma contínua atividade gratificante. Tentei, neste breve artigo, argumentar que os terapeutas da fala precisam de levar mais a sério o lado emocional da gaguez. Acredito que eles precisam de mais formação nesta área, e uma vez que não se pode esperar que os programas curriculares adicionem esta grande parte a um currículo já sobrecarregado, sugeri que cada terapeuta da fala deve procurar esta informação e competência por conta própria. Também tentei expor, nas melhores condições possíveis, como é o lado emocional da gaguez, como deve ser tratado e como podem ser os terapeutas da fala introduzidos a este tema. Espero que esta informação seja útil para as pessoas que gaguejam e para aqueles que as tratam.   Referências Amsel, A., and Roussel, J. (1952). Motivational properties of frustration: I.. Effect on a running response of the addition of frustration to the motivational complex. Journal of Experimental Psychology, 43, 363-68. Bandura, A. (1969). Principles of Behavior Modification. New York: Holt, Rinehart, and Winston, Inc. Bloodstein, O. (1960). The development of stuttering: I.: Changes in nine basic features. Journal of Speech and Hearing Disorders, 25, 219-37. Jezer, M. (1997). Stuttering: A Life Bound up in Words. New York: Basic Books. Kubler-Ross, E. (1969). On Death and Dying. New York: Macmillan. Starkweather, C., Gottwald, S., and Halfond, M. (1990). Stuttering Prevention: A Clinical Method. Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall.   Tradução livre do artigo “Below the Surface: Treating the Emotional Aspects of Stuttering” de C. Woody Starkweather. https://www.mnsu.edu/comdis/isad4/papers/starkweather4.html Consultado a 26 de setembro de 2016.
Laurent Lagart, que traduziu os livros Conselhos Para Aqueles Que Gaguejam e Às vezes eu só gaguejo para Francês, partilha agora “25 coisas que gostaria de ter sabido quando tinha 20 anos”. Ele escreveu-as no seu blog em Francês e já as traduziu para Inglês. O SOS - Gaguez traduz agora para Português.
  1. Eu gostaria de ter sabido que a gaguez não é uma falha e não é minha culpa.
  2. Eu gostaria de ter sabido que a gaguez é apenas uma parte da minha pessoa.
  3. Eu gostaria de ter sabido que aceitar não significa abdicar.
  4. Eu gostaria de ter sabido que a gaguez não é a explicação para todas as coisas que eu não gosto em mim ou na minha vida.
  5. Eu gostaria de ter sabido que é possível ultrapassar a gaguez.
  6. Eu gostaria de ter sabido que um ponto comum entre as pessoas que gaguejam que superaram a gaguez é que eles sabiam que era possível.
  7. Eu gostaria de ter sabido que a gaguez não é um fracasso e a fluência não é um sucesso.
  8. Eu gostaria de ter sabido que temos de ter a coragem de sermos nós mesmos, com as nossas virtudes e defeitos.
  9. Eu gostaria de ter sabido que falar abertamente sobre a minha gaguez poderia ser um alívio.
  10. Eu gostaria de ter sabido que os outros vão reagir à minha gaguez da mesma maneira que eu reajo em relação a mim mesmo.
  11. Eu gostaria de ter sabido que falar sobre a gaguez abriria a porta para um mundo de maravilhosas descobertas e de encontros.
  12. Eu gostaria de ter sabido que nunca devemos deixar que a gaguez nos impeça de avançar.
  13. Eu gostaria de ter sabido que cada vez que me esquivo é um desperdício de tempo.
  14. Eu gostaria de ter sabido que cada viagem começa com um primeiro passo.
  15. Eu gostaria de ter sabido que não preciso de ser bom para começar, mas preciso começar para ser bom.
  16. Eu gostaria de ter sabido que a mais pequena ação é melhor do que a mais nobre intenção.
  17. Eu gostaria de ter sabido que “Nós somos o que fazemos repetidamente. Excelência, então, não é um ato, mas um hábito.” – Aristóteles
  18. Eu gostaria de ter sabido que ao ser positivo e ao mudar os meus pensamentos poderia realmente mudar a minha vida.
  19. Eu gostaria de ter sabido que a palavra “fracasso” não existe. Há apenas resultados que são aprendizagens e grandes passos para o sucesso.
  20. Eu gostaria de ter sabido que não existem dificuldades, apenas oportunidades.
  21. Eu gostaria de ter sabido que a comunicação eficaz não é uma questão de fluência.
  22. Eu gostaria de ter sabido que as pessoas que gaguejam podem competir com os melhores oradores e ganhar concursos de fala.
  23. Eu gostaria de ter sabido que a gaguez responde positivamente ao humor.
  24. Eu gostaria de ter sabido que devemos procurar satisfação e não desempenho.
  25. Eu gostaria de ter sabido que escreveria estas linhas um dia. E gostaria de ter sabido que um dia falaria com Jane Fraser e traduziria e publicaria dois livros da Stuttering Foundation.
  O endereço do blog de Laurent Lagarde é www.goodbye-begaiement.fr e a sua página do Facebook é a www.facebook.com/GoodbyeBegaiement
Anunciar é a técnica mais importante que uma pessoa que gagueja pode aprender. As pessoas que gaguejam usam quase todos os truques concebíveis para esconder a sua gaguez. Isto faz com que fiquem tensos e a comunicação seja difícil, visto que a gaguez geralmente aumenta. Anunciar é dizer às pessoas com quem está a falar que gagueja, informá-las de alguma maneira que você não fala fluentemente. As pessoas que gaguejam precisam de anunciar antes, ou assim que possível, que a conversa comece. Isto faz com que o peso de tentar ser fluente saia de cima dos ombros da pessoa que gagueja. Quando o ouvinte sabe que o orador gagueja não ficará surpreendido quando este começar a gaguejar e a pessoa que gagueja não vai tentar evitar gaguejar. Está então estabelecido um ambiente amigável para quem gagueja. No início, não será fácil anunciar. A pessoa que gagueja sentir-se-á estranha ao admitir algo que tentou esconder com tanto esforço. A pessoa que gagueja sentir-se-á desconfortável, mas depois do seu “segredo” ser descoberto não terá que se preocupar em esconder a gaguez e poderá começar a desfrutar de uma conversa. Há várias maneiras de anunciar. Talvez a mais simples seja:
  1. A maneira direta:
a. “Eu sou o Pedro Madeira e gaguejo.” b. “Olá! Eu sou o Pedro Madeira e gaguejo.” c. “Eu sou o Pedro Madeira e, a propósito, gaguejo.” Há outras maneiras de anunciar:
  1. Pode fingir que está a gaguejar e, de seguida, fazer um comentário sobre o assunto.
  2. Se estiver numa situação em que for apropriado, poderá contar uma anedota sobre pessoas que gaguejam e rir-se com o seu público.
Não importa qual é o método que a pessoa que gagueja utiliza, desde que anuncie. Os anúncios devem ser feitos com frequência – assim que começar na terapia, durante a terapia e especialmente depois da terapia. É especialmente importante anunciar em todas as situações novas e nas situações em que a pessoa que gagueja quer ser particularmente fluente e quer esconder a sua gaguez. Uma pessoa que gagueja PRECISA de anunciar. Será difícil. A pessoa que gagueja perceberá rapidamente que anunciar ajuda! Ao sentir-se mais livre para gaguejar à vontade, a pessoa que gagueja e os seus ouvintes podem estar mais relaxados e desfrutarem da conversa. A pessoa que gagueja pode de facto perceber que gagueja menos, muito menos, quando deixa de tentar esconder a sua gaguez. Anunciar é uma das ferramentas mais importantes da terapia da gaguez. Use esta ferramenta com frequência! ANUNCIE!   Adaptado do caderno do SSMP (succesful stuttering management program).
De Ed Arrington Há muitos anos, quando eu estava na Força Aérea, colocado em San Antonio, Texas, passei por uma experiência traumática, angustiante e humilhante. Trabalhei como secretário num escritório, e tinha como trabalho (entre outras funções) atender todas as chamadas recebidas. Um dia recebi uma chamada de rotina. A única pessoa que estava comigo no escritório era um Major do Exército, um homem bondoso. A minha conversa telefónica foi breve – Eu disse olá, identifiquei-me, assim como o escritório no qual trabalhava e, de seguida, ouvi a resposta. Pediram-me para comentar sobre um determinado assunto, mas, infelizmente, fui incapaz de cumprir o pedido. Psicologicamente, eu estava aterrorizado, porque eu gaguejava muito diariamente. Acabei por desligar o telefone e baixei a cabeça com embaraço e vergonha – bem-vindo ao mundo de alguém que gagueja. Não lhe vou dar uma definição médica da gaguez (e há algumas) – é uma perturbação que qualquer pessoa pode detetar. Os cientistas não sabem porquê que as pessoas gaguejam. Os meninos têm 3 vezes mais probabilidades do que as meninas de sofrer disto. Cerca de 1% dos adultos são afetados pela gaguez. Para mim, 1% é uma percentagem grande. No entanto, porque eu posso gaguejar a qualquer momento, e quando isso acontece, é como se torcessem uma faca através da minha barriga, retalhando órgãos preciosos. Essa imagem traduz o que a gaguez significa para a minha autoestima, que acabou de ser pulverizada. Passei a ter consciência de que um inimigo impiedoso está a tentar, novamente, deitar-me abaixo. Durante muito tempo, a gaguez teve um grande impacto na minha vida social. Evitava estar com um grupo de pessoas, porque não sabia se ia gaguejar. Lembro-me vividamente que durante a formação básica na Força Aérea estive diante de um instrutor e gaguejei tão severamente que ele, por piedade, frustração e, talvez, desprezo, dispensou-me da sua presença – Acho, realmente, que o pobre homem não sabia o que fazer – em retrospetiva, seria fácil sentir simpatia por ele. Lembro-me de quando ia à igreja e me pediam para rezar. Como eu não conseguia dizer algumas palavras, parei e pedi a outra pessoa para rezar. Durante um longo período não voltei à igreja. A Terapia Profissional tem sugerido que há curas para a gaguez – Há um dispositivo anti gaguez – também há um curso de Terapia de 12 dias, e muitos outros. Não usei nada do que referi anteriormente – Apenas esforcei-me muito para controlar a gaguez e, especialmente, não usar muitas palavras que envolvessem “S” ou “T” quando falava. Agora, em ocasiões raras que eu possa gaguejar, é difícil fazer-me pensar: “Eu, realmente, melhorei. Não gaguejo há muito tempo.” – lembra-se daquela faca na minha barriga? O impacto será sempre mortal e impiedoso, mergulhando-me por um momento na miséria abjeta. Por fim, volto a pensar naquele bondoso Major do Exército que estava no meu escritório. Ele ouviu cada tentativa forçada de falar naquele dia. Quando desliguei o telefone ele aproximou-se e colocou a mão no meu ombro. Ele ajudou-me a encontrar um terapeuta da fala. Não era uma cura, mas foi um primeiro passo muito importante para dominar a minha luta com a gaguez. Isso em si provou ser um benefício maravilhoso, e por causa disso, estou determinado a nunca mais cair para esta perturbação cruel que é a gaguez. Podes entrar em contacto com o Ed Arrington através do endereço eletrónico edarrington6@yahoo.com ou 9684 Nelson Fork Drive, Jacksonville, FL 32222 Tradução livre do folheto “Stuttering – the Heartless Enemy of Communication” da SFA. http://www.stutteringhelp.org/stuttering-heartless-enemy-communication
Por James J. Costanzo Tudo começou quando eu tinha 10 anos; recebi o rótulo de gago. A partir desse momento foi isso que fiz – eu gaguejava e gaguejava bem. Toda a gente aceitou o problema como parte da minha personalidade. Isto é, todos menos eu. Eu queria falar claramente – dizer o meu nome, a minha morada ou o que queria para o almoço – sem transpirar e arquejar para dizer palavras semi audíveis. Ao longo do 1º, 2º e 3º ciclo e também do ensino superior eu saí-me bem academicamente e dava-me bem com os meus amigos. Destaquei-me em desporto, música, artes – qualquer área na qual eu não tivesse que falar. Eu diverti-me, mas uma nuvem pairava sobre mim. A nuvem da gaguez. Durante o ensino superior, e durante uns anos depois de terminar os estudos, toquei numa banda. Contudo, eu via o tempo a passar e queria arranjar um emprego com um futuro mais promissor. Decidi que queria ser vendedor. Quando eu era pequeno, a experiência que mais me marcou foi engraxar sapatos para ganhar dinheiro para comprar uma luva de basebol. Eu tinha construído uma caixa em madeira e nela pintei dois preços, 15 cêntimos para um brilho normal e 25 cêntimos para um brilho especial. Dei uma escolha aos meus clientes e, olhando para trás, foi aí que comecei a minha carreira de vendedor. A minha grande oportunidade na área das vendas apareceu nos anos 60, quando um amigo me ofereceu um emprego como vendedor de equipamentos de fotocópias, no qual eu recebia uma comissão direta. Quem mais contrataria um vendedor gago a não ser uma empresa que o pusesse a ganhar em regime de comissão? Eu estava otimista em relação ao emprego. Eu pensei que se estivesse no meio de uma situação em que tivesse que vender algo, que me veria obrigado a ultrapassa-la. Acredito que quando nos focamos na concretização de algo, que conseguimos realizar o que queremos, e eu sou a prova disso. Acredito na filosofia de ter uma Atitude Mental Positiva. Tenho a certeza que a minha motivação e vontade de ter sucesso surgiram por causa disso. No meu primeiro trabalho como vendedor aprendi a usar a substituição de palavras e outras técnicas para disfarçar o meu problema de gaguez. Não foi a melhor coisa a fazer, mas quando não conseguimos falar tentamos quase tudo. Às vezes telefonava aos meus colegas de trabalho e era incapaz de dizer o meu nome. O telefonista que atendesse o telefone acabaria por desligar. O que me deixava furioso! Voltava a telefonar e mesmo antes de alguém atender eu começava a dizer o meu nome. Para quem gagueja, começar a falar antecipadamente parece ajudar. Existem muitos tipos de truques que podem ser utilizados. O melhor para um gago é ser capaz de olhar diretamente para os olhos da pessoa com quem está a falar. Isto faz com que seja uma situação de fala cara a cara. Geralmente, para quebrar o gelo, eu começava um telefonema de trabalho dizendo aos meus clientes que gaguejava, caso o cliente ainda não soubesse. Algumas pessoas sentiam-se desconfortáveis com a minha gaguez, por isso não gostavam de olhar para mim. Eu dizia para mim mesmo “Não faz mal se não olhares para mim. Sei que posso parecer engraçado quando gaguejo, mas não me importo. Podes ter algum “handicap” que eu não tenho, até certo ponto todos temos algum “handicap”. Se tivermos em mente que toda a gente tem um problema, então estamos todos em pé de igualdade.” Este raciocínio fez-me continuar. Estava determinado a tornar-me no melhor vendedor gago, e consegui. Hoje, sou o representante dos fabricantes em Westmont, Illinois, vendo materiais de manutenção de equipamentos. Ainda trabalho em regime de comissão (uma raça em extinção), recebo um salário considerável e tenho um relacionamento sólido com os meus colaboradores e com os meus clientes. Gaguejo ocasionalmente, contudo superei um problema que não é vencido facilmente. Qualquer pessoa pode ultrapassar um problema difícil se conseguir obter proveito dos muitos e bons livros de autoajuda e artigos disponíveis ou procurar aconselhamento profissional, caso o seu “handicap” exija esse tipo de atenção. Não há necessidade de ficar inativo perante o medo e deixar que este determine o futuro. Muitas vezes quis transmitir essa mensagem aos outros que, por causa de um “handicap” ou medo, têm medo de tentar ter sucesso num determinado campo porque pensam que não podem. Se concentrarem a 100% os seus esforços em serem bem-sucedidos, tenho a certeza de que o vão ser. A minha história pode parecer uma confissão, mas eu estava inspirado para a escrever depois de ler um artigo de 1978 na Success Unlimited de W. Clement Stone. Ele escreveu sobre as suas origens humildes – ficou órfão muito cedo, vendeu jornais na zona sul de Chicago e superou obstáculos a que muitos teriam sucumbido. Ele estava determinado a ser bem-sucedido, e conseguiu. E nós também podemos, se tentarmos. Os triunfos não aparecem facilmente. É preciso fazer um esforço extra. Mas são recompensadores quando são alcançados. Se trabalhares mais do que os outros, poderás ser bem-sucedido, apesar dos teus problemas. De certa forma, é uma pena as pessoas que têm talento e não têm problemas encarem isso como um dado adquirido. Embora possa gaguejar de vez em quando, eu aceito isso e não me envergonho. Qualquer pessoa que tenha um problema pode transformá-lo numa vantagem. E como disse W. Clement Stone, “Quando não temos nada a perder ao tentar, e muito a ganhar se formos bem-sucedidos, então, tentem!” Março de 1980/Success Unlimited Tradução livre do folheto “Wise Words from a Stuttering Salesman” da SFA. http://www.stutteringhelp.org/sites/default/files/Migrate/SuccessUnlimitedMarch1980.PDF
Muitas pessoas, quer gaguejem ou não, têm dificuldade em usar o telefone. Preste atenção às pessoas que não gaguejam quando usam o telefone. Algumas demoram alguns segundos a atender. Outras usam muitas vezes interjeições como “Hum” e “Ah”. Outras podem ser muito expressivas com as suas mãos ou rosto, talvez até falem alto e agressivamente. Utilizar o telefone pode causar angústia e cada pessoa deve aprender a lidar com isso à sua maneira. Se, como pessoa que gagueja, tem problemas em usar o telefone, então o seguinte conselho pode ser-lhe útil. Fazer Telefonemas Fazer um telefonema pode, geralmente, ser dividido em três fases: preparação, o telefonema, avaliar como o fez. Preparação Não adie os telefonemas que precisa de fazer. Isso tornará o telefonema ainda mais stressante e difícil.
  • Confronte o seu medo em usar o telefone. Fale sobre o que tem medo que aconteça e o que pode fazer sobre isso.
  • Tente perceber em que situações evita usar o telefone e, gradualmente, enfrente essas chamadas. Aproveite ao máximo as chamadas locais para praticar. Escolha usar o telefone em vez de escrever uma carta ou um email.
  • Tente, na sua casa, ser a pessoa que atende o telefone.
  • Finalmente, pratique, pratique, pratique. Não deixe que aquela peça moderna de plástico domine a sua vida. É melhor usar o telefone e gaguejar, do que evitar usar o telefone.
Certifique-se de que sabe o porquê de estar a telefonar. Escreva os pontos essenciais num papel e tenha-o à sua frente quando fizer o telefonema. Tente telefonar a um amigo ou a um familiar antes da chamada importante. Isto pode ajudá-lo a relaxar. Se tem alguns telefonemas a fazer, faça uma lista e ordene-os por ordem crescente. Comece pelo mais fácil e termine no mais difícil. O Telefonema Normalmente, a parte mais difícil é conseguir falar imediatamente com a pessoa que queremos. Se for confrontado com um operador, por exemplo, seria mais fácil dar o número de uma extensão ou departamento do que dizer o nome da pessoa? Tenha algumas palavras alternativas em mente; seja flexível no que quer dizer. Se bloquear, gagueje abertamente, suave e facilmente; tente não forçar algumas palavras e, mais importante, lembre-se de falar devagar. Não se preocupe muito com silêncios; eles ocorrem em todas as conversas. Concentre-se no que tem a dizer, em vez de se preocupar com os bloqueios. O seu propósito é comunicar algo, quer gagueje ou não. Preste atenção ao seu discurso fluente. Muitas pessoas que esquecem-se dos seus momentos de fluência e concentram-se apenas nos momentos de gaguez. Saboreie a sua fluência; faça outros telefonemas quando se sente mais fluente. O discurso fluente trás confiança e a confiança trás o discurso fluente. Observar-se ao espelho durante um telefonema pode ajudar. Você verá em que parte do seu rosto é que a tensão se concentra, assim como noutras partes do corpo. Se fez um telefonema difícil e sentiu que comunicou bem, então, de seguida, elogie-se ou mime-se e lembre-se da sensação boa que uma chamada bem-sucedida lhe deu. Avaliar Como o Fez A maioria das pessoas, não apenas as que gaguejam, às vezes fazem telefonemas e sentem que não foram muito fluentes ou então que não conseguiram transmitir a mensagem tal como pretendiam. Se sente que um telefonema em particular foi stressante e que gaguejou mais do que o habitual, tente esquecê-lo. Adote uma atitude positiva; lembre-se de que haverá outras conversas em que gaguejará menos. Gaguejar não é um desastre e você pode aprender com cada experiência de fala que tiver. Em casa, se puder, grave as suas conversas telefónicas. Oiça com cuidado o seu discurso, especialmente a velocidade e o que antecede os bloqueios. Tente aprender com cada gravação e prepare uma estratégia para o próximo telefonema. Fazer isto durante um determinado período de tempo, ajudá-lo-á a identificar os problemas recorrentes e as palavras. Receber Telefonemas Esta é a parte em que você tem menos controle. No entanto, pode arranjar maneira de aliviar alguma pressão que possa sentir. Não corra para o telefone. Tenha palavras alternativas preparadas: o número da sua extensão, o nome da sua empresa, ou até mesmo o seu nome. Use as palavras que lhe parecerem mais fáceis nesse momento. Se receber uma chamada num local onde estão mais pessoas que podem ouvir a conversa, concentre-se apenas na chamada. Aceite que os outros podem ouvir e ver que você bloqueia, mas não permita que o distraiam do seu telefonema. Não tenha medo do silêncio inicial do telefonema caso esteja a ter dificuldade em dizer a primeira palavra. É muito comum alguém atender o telefone e não falar, ou porque estão a terminar uma conversa com um colega ou porque alguém atendeu o telefone de outra pessoa e está à espera que essa pessoa regresse ao seu lugar. A pessoa que lhe ligou também pode gaguejar. Seja paciente com os outros. Eles também podem estar ansiosos, tal como você, e também podem estar a por em prática alguns dos conselhos que foram referidos anteriormente. Conselhos Gerais
  • A prática deverá ajudá-lo em relação ao uso do telefone.
  • Admita abertamente que gagueja. Pode ser difícil se você evitou falar sobre este assunto durante toda a sua vida. Fale mais sobre a sua gaguez. Muitas pessoas disseram que falar sobre a gaguez diminuiu a ansiedade e o medo.
  • Observe e oiça pessoas que não gaguejam a falar ao telefone. Oiça a falta de fluência e hesitações que têm.
  • Dê aos outros o benefício da dúvida. Se sabem que você gagueja, então eles estão preparados para alguns momentos de silêncio.
Adaptado do material originalmente desenvolvido pela British Stammering Association. Tradução livre do folheto “Using The Telephone” da SFA. http://www.stutteringhelp.org/Default.aspx?tabid=58

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